Ruídos Absurdos III - Martyrizer: A banda de Belo Horizonte abriu a noite com carga sonora, que não deixou dúvida. Peso em alta dose para cantar em narrativas diretas e contundentes; nossa condição quase não humana ao nos confrontarmos com os resultados de nossas escolhas equivocadas. As letras são cantadas com a rapidez característica do estilo, claro que a intensidade diz tudo. A religião, a política, o consumismo nos levando a desequilíbrios em diversos aspectos de nossa vida. A voz intensamente gutural tendo como suporte parede de guitarras que enfatizam as bases, acima de tudo, encontra um contraponto nos backing vocals, mais agudos e impositivos que provocam a percepção de sermos personagens e não apenas espectadores do martírio nosso de cada dia. - Overloaded (Rep. Tcheca): Atravessar o oceano Atltântico, para tocar, cantar Rock´n Roll e ter a certeza de que a platéia está totalmente envolvida, é mais que recompensador. O Quinteto Overloaded, da República Tcheca, executou com muito vigor seu Hardcore de excelente qualidade. Não pouparam agradecimentos, pois a certeza de entregar ao público participativo, com honestidade, uma música verdadeiramente autêntica. Base sólida e segura, com uma cozinha mais que harmonizada, garantiu aos guitarristas e vocalista, toda a liberdade para suas performances. Com presença mais que simpática, os músicos esbanjaram qualidade técnica em uma apresentação vigorosa. Um vocal marcadamente mais grave, o vocalista encarnava a satisfação da banda diante de platéia tão receptiva. Hardcore que permitiu-se mais melodioso, sem contudo, perder a intensidade do peso apresentado. Uma bateria especialmente marcante e precisa, foi o suporte perfeito para a música com textos engajados e coerentes com a proposta de pessoas que a partir de sua arte, mostram sua visão do mundo. Mosh , para celebrar o momento, e mais nada! - Atack Epiléptico: Misantropia, assim está escrito em O Legado 1986 - 2009 (2010). A banda é ícone do movimento punk, quem não a conhece, não conhece o punk, é mais ou menos assim. A aversão social nesse caso tem endereço certo. Contra as injustiças e imposições praticadas por instituições seculares, contra o lado mais obscuro e perverso do sistema, contra o mal social maior que são a desinformação e ignorância geral. Mesmo que naquele momento a platéia estivesse tomada pela satisfação de estar diante da banda, o subconsciente é claro, registrou um texto que não deixa margem de dúvidas. Ter Atack Epiléptico, reunida para uma apresentação já é em si o acontecimento, e a banda conduzida por Nado e Ameba não permitiu que a platéia respirasse. Subiu em um palco energizado com o melhor de Martyrizer e Overloaded , sem descanso desferiram os acordes de seu punk grindcore direto,certeiro e instigante. As agruras sofridas por parcela considerável da população do Brasil e do planeta foram ali declamadas na voz nervosa e ansiosa por dizer, de Ameba. Canções curtas, como a simbolizar a necessidade de o mais rápido possível tomarmos consciência de que as "coisas" não andam tão boas como tentam nos mostrar. Porradas sonoras e textos sem meias palavras. Gritar o mais alto o quanto ainda falta para alcançarmos algo que se aproxime de justiça social. A música da Atack Epiléptico nos permite apenas pausa para tomar fôlego e nos prepararmos para o próximo petardo. Muito bom ver e ouvir antigos e novos seguidores da banda, ali tendo diante de si toda a autenticidade de música verdadeira e honesta. Punk Rock Engajado! - Terveet Kadet: A banda é referência quando se fala de Punk e Hardcore, originária da Finlândia, desembarcou no Brasil para uma tourné, em terras que significam muito para a sua formação, pois o punk produzido aqui é influência direta para eles. O que esperar mais em uma noite onde todos estavam totalmente envolvidos na atmosfera criada desde o primeiro acorde? Esperar não, testemunhar toda a visceral presença da Terveet. Seguindo a trilha deixada por Ataque Epilético e na mesma linha mais direta e curta em suas canções. Realizou uma apresentação tão intensa quanto a história que escreveram. Não é preciso entender uma única palavra de finlandês para saber sobre o que eles estão falando. Estão falando sobre todos nós, sobre nossa condição de humanos ainda. Em um idioma onde as palavras muitas vezes chegam aos nossos ouvidos como sons onomatopéicos e interjeições, devidos à sua fonética tão diversa da inglesa (Overloaded/Martyrizer) ou portugêsa (Atack Epiléptico); dedução de que não é necessário o uso de muitas palavras para se compreender a essência, a Terveet com sua porrada sonora direta, não deixa dúvidas. Estava no lugar certo cantando para a platéia certa, na noite de Punk Hardcore, absurdamente possível. Quem foi, viveu! (Edison Elloy)

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