12/13/2009

ENTREVISTA

Postado por BH INDIE MUSIC


BANDA 
JULGAMENTO


Completamente equivocada, muita gente pensa que criatividade não tem custo e que música, disco e shows devem ser gratuitos para se chegar à grande platéia.
Quem disse que é barato levar um trabalho independente ao grande público?
Mais difícil, ainda, quando se trata de uma banda com oito integrantes no palco e um set de equipamentos complexos e de primeira qualidade.
Aprisionadas à indústria do entretenimento, muitas bandas boas, no país inteiro, sem saída e sem acordos financeiros, custeiam na raça e em sub empregos que muitas vezes não condizem com sua capacidade intelectual, os custos de instrumentos bons para o palco, horas de estúdio e a fabricação dos seus discos. Tudo para se chegar ao show perfeito, ao disco perfeito e à música perfeita.
Estive conversando com Roger Deff da banda Julgamento e dessas conversas informais e telefônicas, chegamos a esta entrevista.
Não falamos exclusivamente do mercado independente nacional, por agora. Vamos conhecer melhor o trabalho perfeito da banda, seu custo operacional, sua estrada e pesquisa para deixar registrado que banda boa no palco tem seu preço, tal como o seu valor.





BANDA - JULGAMENTO
FORMAÇÃO - 1999 - Belo Horizonte.
ESTILO - Hip-Hop
REFERÊNCIAS - Soul, música latina, rock e bossa nova
INTEGRANTES - Roger Deff, Ricardo HD, Voz Khumallo (vocais), Gusmão (bateria), Helton Rezende (guitarra), Luiz Prestes (baixo), Djs Tobias e Giffoni (Toca-discos).
DISCOS - No Foco do Caos, 2008 (Independente), próximo disco com lançamento previsto para 2011.
CUSTO ESTIMADO DO SHOW - R$3.000,00
MYSPACE - myspace.com/julgamento2008




Malu Aires entrevista Roger Deff (banda Julgamento)
BH Indie Music, 08 / DEZ / 2009


QUANDO E ONDE SURGIU JULGAMENTO?

Bem, do começo: O projeto surgiu em 1995, na região Noroeste de Belo Horizonte – bairro Jardim Alvorada. Na época eu nem sabia o que era hip-hop direito, só sabia que tinha algo de social na parada. Havia um grupo de rap no meu bairro chamado “Fator –R”, que serviu de inspiração inicial pra mim. Os integrantes se tornaram grandes amigos meus e me incentivaram, assim como meu primo que era da Black Soul (único trabalho de rap em BH a assinar com um grande selo). E a idéia começou assim, encontrei alguns amigos que toparam a idéia e começamos com o nome de “Julgamento Rap”, com um formato bem tradicional, dois mcs e um DJ. Nem de longe eu tinha a pretensão de chegar onde chegamos hoje, as possibilidades foram surgindo com o tempo.


QUAIS AS INFLUÊNCIAS DO HIP HOP QUE AJUDARAM NA CONSTRUÇÃO DO TRABALHO DA BANDA E COMO ESTAVA O CENÁRIO DO HIP HOP EM BH QUANDO VOCÊS COMEÇARAM?
As coisas que me influenciaram inicialmente foram nomes do cenário nacional como Thaíde & DJ Hum, Câmbio Negro, GOG...estes nomes são, de certa forma, responsáveis pelo discurso político que o Julgamento adota até hoje. Outras referências muito importantes pra mim são o Public Enemy e o Rage Against The Machine.
Quanto ao cenário em BH, em 1995 a cidade possuía alguns nomes de peso como a Black Soul, cujas músicas eram veiculadas em FMs, e grupos como o Divisão de Apoio, Fator R, Mad Souls Men, Retrato Radical...eram trabalhos bem diversos, bem plurais em termos de estilo e discurso. Haviam muitos outros grupos de rap, e todos se apresentavam nos eventos realizados nos bairros mais pobres e se encontravam periodicamente em shows organizados no centro. Neste período tive pouco contato com outros elementos da cultura hip-hop, como grafiteiros e dançarinos de break, já que o rap estava seguindo um caminho meio à parte.


O HIP HOP PROPÕE UM APELO BASTANTE SOCIAL. O PROJETO JULGAMENTO ACABOU DESMEMBRANDO PARA AÇÕES NESTE SENTIDO COM A PERIFERIA?
Eu sempre entendi o hip-hop, mais especificamente o rap, que é a música desta cultura urbana, como uma forma de comunicação muito eficaz entre os jovens moradores de periferia. Há uma carência de leitura entre os jovens, independente da classe social, mas entre as classes mais desprivilegiadas isto tem um efeito amplificado, porque é somado às dificuldades financeiras e um ensino básico precário. Resumindo: eu sempre quis fazer das letras do Julgamento algo que levasse estes jovens à outras direções, mesmo que seja num nível mais básico. Acho que esta é nossa contribuição para periferia. Claro que as pessoas precisam de ações concretas não apenas idéias, mas é a nossa forma de participar deste processo de construção.


AINDA QUE O CENÁRIO HIP HOP ESTEJA CONCENTRADO, EM GRANDE MAIORIA, NAS COMUNIDADES MAIS DESPROVIDAS DE ASSISTÊNCIA, CULTURA E EDUCAÇÃO, ALÉM DE CONDIÇÕES FINANCEIRAS, O CUSTO OPERACIONAL DE UMA BANDA DE HIP HOP NÃO É BARATO. COMO VOCÊS CONSEGUIRAM DRIBLAR ESSAS ADVERSIDADES E MONTAR UM SET TÉCNICO COM BONS EQUIPAMENTOS QUE PUDESSEM FALAR NOS P.A.'S, SEM GRANA NO BOLSO? E COMO A GALERA DO HIP HOP SE VIRA ATÉ HOJE?
É tudo muito caro. A formação básica de um grupo de rap (dois ou mais vocais e um DJ) já tem um custo alto. O par de toca-discos utilizado é um equipamento japonês, a famosa MK2. Se eu não me engano o valor é de mais de dois mil reais, fora as demais coisas, como a produção das bases etc. O que o pessoal faz é trampar e guardar grana pra investir no trabalho musical. Com a gente não foi diferente. No caso do Julgamento, quando resolvemos que o projeto seria uma junção do formato tradicional com instrumentistas, cada um trouxe seu próprio equipamento pra somar no projeto. Fizemos uma coisa meio ambiciosa, admito. Juntar três mcs, dois Djs, baixo, batera, sampler e guitarra era um up-grade para o trabalho, por outro lado tornava a realização dos shows muito mais complexa, devido ao set pouco convencional que adotamos.


QUAIS SÃO OS GRUPOS QUE MAIS SE DESTACAM, NA SUA OPINIÃO, NO CENÁRIO DE HIP HOP EM BH?
Eu vejo isso de duas formas: existem os trabalhos que servem de vitrine, que cumprem o papel de chamar a atenção de outros públicos e da mídia para o hip-hop local, e tem aqueles trabalhos que não possuem grande visibilidade externa mas gozam de muito prestígio junto ao público específico do hip-hop. O Renegado possui um trabalho que serve de vitrine para o que é produzido aqui, circula por outras partes do país e tudo. Já o Julgamento vai na mesma linha, mas de uma forma mais underground. De qualquer forma, em Belo Hrizonte, somos um dos trabalhos de rap mais conhecidos por parte de pessoas que não possuem ligação formal com o hip-hop, justamente por dialogarmos com outras linguagens musicais e participarmos de festivais importantes por aqui. Outro trabalho interessante é o da dupla Dokttor Bhu & Shabê, estão se tornando uma referência importante na cidade. Dentro do contexto específico do hip-hop os nomes que hoje se destacam são o do Retrato Radical, que é um grupo de rap que atua a vinte anos e já lançou três discos, e tem um pessoal da nova escola, como o Gurila Mangani e o Rima Sambada.


QUAIS SÃO AS AÇÕES CULTURAIS VOLTADAS À CULTURA HIP HOP NO PAÍS? ALGUMA EM DESTAQUE EM BELO HORIZONTE?
No país acho que uma das frentes mais importantes é o Prêmio Hutus, promovido pela CUFA. Tem o Indie Hip-Hop realizado em São Paulo, que reúne trabalhos nacionais a convidados do exterior. Este ano por exemplo os caras trouxeram o Mos Def, um dos maiores rappers da atualidade. Em BH já rolaram coisas bacanas como Hip-hop In Concert, que acontece no Teatro Francisco Nunes e a premiação anual “Melhores do Rap” cuja última edição foi em 2000. Hoje a ação mais importante, na minha opinião, é o Duelo de Mcs, porque mantém o hip-hop vivo em seu habitat natural que é a rua. O evento consegue reunir todos os elementos da cultura de forma natural e ao mesmo tempo possibilita às pessoas a oportunidade de conhecer um pouco do que é a cultura de rua.


COMO VEM SE COMPORTANDO O PÚBLICO DO HIP HOP? CRESCEU?
Cresceu bastante desde que eu comecei. Até porque, na época, era difícil encontrar alguém que soubesse o que era hip-hop. Hoje existe um público maior com certeza. Não quer dizer que todos compreendam exatamente o que significa toda essa manifestação artística, mas a coisa está mais massificada. Até que ponto isso é positivo ou negativo eu não sei dizer.


A BANDA JULGAMENTO NÃO FICA PARADA NUM SÓ NICHO. AUTENTICAMENTE INDEPENDENTES, VOCÊS VEM SE DESTACANDO EM FESTIVAIS, INCLUSIVE DE ROCK. QUAL O PROPÓSITO DA BANDA PRO MERCADO DE MÚSICA INDEPENDENTE?
Um dos primeiros objetivos deste trabalho era expandir o que fazemos pra outros públicos. Estamos conseguindo fazer isso gradualmente. Eu sempre vi o que fazemos como música, acima de tudo, então era importante pra mim que o trabalho fosse reconhecido independente de rótulos. Hoje a maior parte do nosso público não tem ligação com o hip-hop, há uma variedade muito grande de pessoas que se identificam com o som que fazemos.Conseguimos nos inserir em festivais e eventos onde o rap tem pouca presença além da aceitação e reconhecimento na cena cultural do estado. O que queremos agora é circular por outras partes do país e ampliar a área de atuação.


O DISCO "NO FOCO DO CAOS" FOI FEITO NA PURA RAÇA E, APESAR DA GENTE SABER QUE NÃO É BARATO FAZER UM DISCO, VOCÊS FORAM ALÉM DO CONVENCIONAL E MOSTRARAM UM TRABALHO FONOGRÁFICO DE QUALIDADE DE MAJOR COM EDIÇÕES, MIXAGENS, SONOGRAFIAS... CONTA A HISTÓRIA DESSE DISCO PRA GENTE.



Essa história é das mais longas. O projeto deste disco existe desde 2000, quando pensamos o conceito do álbum. Começamos a escolha do repertório, as pré-produções etc. Não sabíamos como iríamos fazer porque não tínhamos os recursos, só sabíamos que não seria, de forma alguma, um CD de rap convencional. Queríamos fazer algo que fosse realmente significativo e importante. Daí contamos com as participações de vários parceiros, gente que ajudou a imprimir a musicalidade diversificada que queríamos, mas sem perder a unidade da obra. O trabalho começou nas mão de um produtor e, no final das contas, o Giffoni que é um dos Djs do Julgamento, foi quem realizou a maior parte do processo, desde a gravação, produção e mixagem. Demorou muito porque queríamos que o trabalho saísse o melhor possível então fomos muito cuidadosos no que diz respeito à concepção do disco. Deixamos a masterização para o Fabrício Galvani, do estúdio Casa Antiga, que já havia realizado trabalhos importantes como o último disco do Carolina Diz.


QUANDO A GENTE VAI PODER CONFERIR O NOVO DISCO DA JULGAMENTO?
O próximo trabalho está previsto para 2011 e vai se chamar “Muito além” que é o nome de uma das músicas de trabalho. Teremos uma sonoridade mais orgânica mas vamos manter muito dos beats eletrônicos, característicos do hip-hop.


QUEM QUISER CONTRATAR A BANDA, COMO ENTRAR EM CONTATO COM VOCÊS E QUANTO CUSTA UM SHOW?
Normalmente negociamos o valor do show de acordo com o contratante, depende muito.
Para entrar em contato com o grupo é só enviar e-mail para:
rogerdeff@yahoo.com.br e julgamentobh@gmail.com
Para conhecer mais do nosso trabalho: julgamentoemcena.wordpress.commyspace.com/julgamento2008

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