3º Som na Sucata – No tradicional prédio do Museu de
Mineralogia (Rainha da Sucata), na Praça da Liberdade. Nos dias 11 e 12 de
agosto aconteceu a terceira edição do Festival Som na Sucata. Reunindo nesses
dois dias representantes da cena da música independente. Mais uma vez um fim de
semana em que o Teatro de Arena recebeu bandas e um artista solo de excelente
qualidade. Dando continuidade ao projeto onde a produção executiva e artística
coube aos participantes.
Sábado: Pêlos. A primeira
banda a se apresentar a partir das 15h. E por conta de toda esta pontualidade eu não
assisti a apresentação. Mas tenham certeza que a Pêlos, faz jus sempre aos
elogios que recebe. E foi o que ouvi das pessoas presentes em relação a eles. Uma
apresentação em que a expressividade da interpretação vocal de Robert Frank
(Vocal/guitarra) sempre marca e coloca a banda como uma das mais
representativas da cena musical. Logo sobe ao palco Bertola e os Noctívagos. A
banda já aquecida e desfilando seu arsenal de boas e fortes canções. A presença
sempre personalíssima de seu vocalista Flávio Bertola garante a qualidade de
texto e musical. Ele, com segurança peculiar nos brinda com as “antigas” e também
canções inéditas que estarão no próximo álbum. Os labirintos da mente humana
são trilhados e colocados à mostra. A força sonora que caracteriza a música da
banda estava lá. E estará sempre onde eles estiverem. Grafômanos vem em
seguida. Executando canções de seu primeiro álbum. Um quarteto, mas esteve
desfalcado. E talvez por isso o empenho da banda para se apresentar tenha sido
mais intenso ainda. Canções que caem muito bem aos ouvidos e de alta qualidade,
e narrativas carregadas de poesia. Sandro Marte (vocal/guitarra) canta o
cotidiano e as relações humanas com um leve ar melancólico e distante. Mas, não
é o que nos acomete? Nesses tempos “estranhos” em que vivemos. A amizade e a
busca pelo encontro com o outro em nós, também estão lá. Humanos que somos. Muito
bom ouvi-los e pensar. A banda Zanzara sobe ao palco com uma pergunta. “O que
você construiu?” Eles. Tenha certeza construíram uma estrutura musical sólida e
precisa. Alternativa na acepção plena da palavra, a banda de Héctor Gaete
(vocal/baixo), Francesco Nápoli (guitarra) e Ludson (bateria). Definitivamente
não nos permite desviar a atenção. Música que envolve, pois, atinge em cheio o
córtex. Textos questionam. Tudo sempre dentro das margens de segurança possíveis,
mas jamais previsíveis. Aventurar-se é o que nos propõem. A última banda a
apresentar-se na noite é a Paz-Me, com a sua irrepreensível competência
técnica. Desfila as canções que pedem para os ouvidos e sentidos ficarem mais
que atentos. Influenciada pelo melhor da música mineira. Narra histórias e
experiências conhecidas de todos nós. Observações críticas, emocionais e
sociais. Melodias muito bem arranjadas e executadas. Encerram a primeira noite
do evento com a qualidade que lhes é característica.
Domingo: Polaco Nolasco
(vocal/guitarra), Yuri Alves (bateria) e Mauricio Santos (baixo) formam a Rock
D´La Rua. Música simples para falar das complexas relações humanas? Não apenas
isso. Musica construída em bases sólidas porque traduz as experiências pessoais
e as percepções de uma pessoa atenta. Polaco Nolasco está à frente de um
trabalho honesto e bem determinado em sua proposta musical. E com cuidados
perceptíveis. Produção visual e principalmente musical aponta esta preocupação.
Cuida de seu projeto com atenção que a plateia merece. A qualidade técnica nos
mostrou o quanto letras engajadas e bem cantadas podem determinar caminhos bem
definidos e seguros. E canções inéditas que merecem atenção. “O último dia”,
onde se pode ler: Precisamos apostar na esperança. Em seguida, ironia mordaz e quase
tragédias definitivas. As pessoas, suas limitações e quase grandezas. Inteligência
e habilidade para transformar canções bem construídas em uma viagem por dramas
e lugares familiares. Aldan, liderada por Marcus V. Evaristo (vocal/guitarra)
não deixa por menos. Com uma sonoridade definida por excelente tratamento de seus
arranjos, faz uma apresentação alegre e segura para a banda, e digna de atenção
para a plateia. Os bons timbres e a execução mostram os cuidados da banda com
sua música. Melhor ainda para quem os ouve. Hotel Catete, como a dar
continuidade ao passeio anterior, nos entrega suas canções com a cumplicidade
daqueles flagrados em ato impróprio. Mas, Bruno César (vocal/guitarra), e seus “comparsas”
munidos de excelência técnica, humor e fina criatividade. Coloca-nos dentro das
mentes de suas “personas”. Passeios por noites e bares, ao som de boleros e
buscas sem fim. O prazer maior está em ouvir e se identificar com as
narrativas. E enganam-se aqueles que veem e ouvem apenas o que está aparente.
Grande apresentação deste Hotel já tão familiar. “Eu não sei o que é viver”. Se
Luan Nobat, não sabe. Agradecemos por ele saber sim o que deseja. Rock ´n roll!
Tendo ao seu lado músicos de alta qualidade. Nobat descarregou sua musica forte
e cheia de personalidade. Composições assimiláveis por serem orgânicas e
honestas. Questionamentos, perguntas e respostas dele para ele mesmo? Mas a
identificação é instantânea, pois estamos ali retratados. A complexa condição
de sermos humanos. Os meandros de nossas mentes estavam todos lá. E Nobat
interpretando com uma voz segura e dramática, forte e determinada para cantar e
perguntar. “Algo faz sentido?”. Com uma apresentação sincera e honesta. Sim! Faz
sentido criar canções para entregá-las aos ouvidos que delas precisam. E por
fim, a noite de domingo é encerrada com um ponto de exclamação assim: !slama,
Não há lugar para o “vazio” cantado por Dáblio (vocal), não há lugar para
reticências e incertezas diante da sonoridade coesa, da guitarra muito bem equalizada
e da base segura. O caminho está aí para todos, trilhe o que lhe cabe. Assim
cantam, assim executam. Em vocais impecáveis tecnicamente, assim como
impecavelmente vestido estava o “frontman” da banda. Uma reverencia a plateia. Mostram
como faz bem conhecer quem executa ao seu lado as canções que você compõe e as
letras que você canta. Procuras e buscas ficam menos árduas. A celebração. Assim
encerram o encontro de música e arte. Os guarda-chuvas não devem ser abertos,
quando a chuva é para a redenção do espírito. Salve! Aqueles que se molham de música
e lucidez. A excelente qualidade dos artistas que se apresentaram mostra a rica
e diversa criação musical de Belo Horizonte. E isso só faz bem!
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4 comentários:
FODA DEMAIS!!!!!!!!!!!!
Valeu!!!!!!!!!!!!
Ótimo texto!
belíssimo texto, meu caro.
Obrigado!
Parabéns. Preciso e elegante.
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