8/18/2012

Som na Sucata 3

Postado por Edison Elloy



3º Som na Sucata – No tradicional prédio do Museu de Mineralogia (Rainha da Sucata), na Praça da Liberdade. Nos dias 11 e 12 de agosto aconteceu a terceira edição do Festival Som na Sucata. Reunindo nesses dois dias representantes da cena da música independente. Mais uma vez um fim de semana em que o Teatro de Arena recebeu bandas e um artista solo de excelente qualidade. Dando continuidade ao projeto onde a produção executiva e artística coube aos participantes.

Sábado: Pêlos. A primeira banda a se apresentar a partir das 15h. E por conta de toda esta pontualidade eu não assisti a apresentação. Mas tenham certeza que a Pêlos, faz jus sempre aos elogios que recebe. E foi o que ouvi das pessoas presentes em relação a eles. Uma apresentação em que a expressividade da interpretação vocal de Robert Frank (Vocal/guitarra) sempre marca e coloca a banda como uma das mais representativas da cena musical. Logo sobe ao palco Bertola e os Noctívagos. A banda já aquecida e desfilando seu arsenal de boas e fortes canções. A presença sempre personalíssima de seu vocalista Flávio Bertola garante a qualidade de texto e musical. Ele, com segurança peculiar nos brinda com as “antigas” e também canções inéditas que estarão no próximo álbum. Os labirintos da mente humana são trilhados e colocados à mostra. A força sonora que caracteriza a música da banda estava lá. E estará sempre onde eles estiverem. Grafômanos vem em seguida. Executando canções de seu primeiro álbum. Um quarteto, mas esteve desfalcado. E talvez por isso o empenho da banda para se apresentar tenha sido mais intenso ainda. Canções que caem muito bem aos ouvidos e de alta qualidade, e narrativas carregadas de poesia. Sandro Marte (vocal/guitarra) canta o cotidiano e as relações humanas com um leve ar melancólico e distante. Mas, não é o que nos acomete? Nesses tempos “estranhos” em que vivemos. A amizade e a busca pelo encontro com o outro em nós, também estão lá. Humanos que somos. Muito bom ouvi-los e pensar. A banda Zanzara sobe ao palco com uma pergunta. “O que você construiu?” Eles. Tenha certeza construíram uma estrutura musical sólida e precisa. Alternativa na acepção plena da palavra, a banda de Héctor Gaete (vocal/baixo), Francesco Nápoli (guitarra) e Ludson (bateria). Definitivamente não nos permite desviar a atenção. Música que envolve, pois, atinge em cheio o córtex. Textos questionam. Tudo sempre dentro das margens de segurança possíveis, mas jamais previsíveis. Aventurar-se é o que nos propõem. A última banda a apresentar-se na noite é a Paz-Me, com a sua irrepreensível competência técnica. Desfila as canções que pedem para os ouvidos e sentidos ficarem mais que atentos. Influenciada pelo melhor da música mineira. Narra histórias e experiências conhecidas de todos nós. Observações críticas, emocionais e sociais. Melodias muito bem arranjadas e executadas. Encerram a primeira noite do evento com a qualidade que lhes é característica.
Domingo: Polaco Nolasco (vocal/guitarra), Yuri Alves (bateria) e Mauricio Santos (baixo) formam a Rock D´La Rua. Música simples para falar das complexas relações humanas? Não apenas isso. Musica construída em bases sólidas porque traduz as experiências pessoais e as percepções de uma pessoa atenta. Polaco Nolasco está à frente de um trabalho honesto e bem determinado em sua proposta musical. E com cuidados perceptíveis. Produção visual e principalmente musical aponta esta preocupação. Cuida de seu projeto com atenção que a plateia merece. A qualidade técnica nos mostrou o quanto letras engajadas e bem cantadas podem determinar caminhos bem definidos e seguros. E canções inéditas que merecem atenção. “O último dia”, onde se pode ler: Precisamos apostar na esperança. Em seguida, ironia mordaz e quase tragédias definitivas. As pessoas, suas limitações e quase grandezas. Inteligência e habilidade para transformar canções bem construídas em uma viagem por dramas e lugares familiares. Aldan, liderada por Marcus V. Evaristo (vocal/guitarra) não deixa por menos. Com uma sonoridade definida por excelente tratamento de seus arranjos, faz uma apresentação alegre e segura para a banda, e digna de atenção para a plateia. Os bons timbres e a execução mostram os cuidados da banda com sua música. Melhor ainda para quem os ouve. Hotel Catete, como a dar continuidade ao passeio anterior, nos entrega suas canções com a cumplicidade daqueles flagrados em ato impróprio. Mas, Bruno César (vocal/guitarra), e seus “comparsas” munidos de excelência técnica, humor e fina criatividade. Coloca-nos dentro das mentes de suas “personas”. Passeios por noites e bares, ao som de boleros e buscas sem fim. O prazer maior está em ouvir e se identificar com as narrativas. E enganam-se aqueles que veem e ouvem apenas o que está aparente. Grande apresentação deste Hotel já tão familiar. “Eu não sei o que é viver”. Se Luan Nobat, não sabe. Agradecemos por ele saber sim o que deseja. Rock ´n roll! Tendo ao seu lado músicos de alta qualidade. Nobat descarregou sua musica forte e cheia de personalidade. Composições assimiláveis por serem orgânicas e honestas. Questionamentos, perguntas e respostas dele para ele mesmo? Mas a identificação é instantânea, pois estamos ali retratados. A complexa condição de sermos humanos. Os meandros de nossas mentes estavam todos lá. E Nobat interpretando com uma voz segura e dramática, forte e determinada para cantar e perguntar. “Algo faz sentido?”. Com uma apresentação sincera e honesta. Sim! Faz sentido criar canções para entregá-las aos ouvidos que delas precisam. E por fim, a noite de domingo é encerrada com um ponto de exclamação assim: !slama, Não há lugar para o “vazio” cantado por Dáblio (vocal), não há lugar para reticências e incertezas diante da sonoridade coesa, da guitarra muito bem equalizada e da base segura. O caminho está aí para todos, trilhe o que lhe cabe. Assim cantam, assim executam. Em vocais impecáveis tecnicamente, assim como impecavelmente vestido estava o “frontman” da banda. Uma reverencia a plateia. Mostram como faz bem conhecer quem executa ao seu lado as canções que você compõe e as letras que você canta. Procuras e buscas ficam menos árduas. A celebração. Assim encerram o encontro de música e arte. Os guarda-chuvas não devem ser abertos, quando a chuva é para a redenção do espírito. Salve! Aqueles que se molham de música e lucidez. A excelente qualidade dos artistas que se apresentaram mostra a rica e diversa criação musical de Belo Horizonte. E isso só faz bem!

4 comentários:

[Paz-me] disse...

FODA DEMAIS!!!!!!!!!!!!
Valeu!!!!!!!!!!!!

francesco disse...

Ótimo texto!

Dáblio Slama disse...

belíssimo texto, meu caro.
Obrigado!

Héctor disse...

Parabéns. Preciso e elegante.

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